Moçambique tem sido palco de um dinamismo económico notável nos últimos anos. Com a sua localização estratégica, o país tem desfrutado de um crescimento significativo em vários setores-chave, sendo que a descoberta e exploração de recursos naturais na Província de Cabo Delgado, têm sido um dos principais impulsionadores da economia moçambicana. No entanto, embora este dinamismo ofereça várias oportunidades para as PME locais, são também muitos os riscos que elas enfrentam, sendo cada vez mais importante identificá-los, avaliá-los e implementar medidas de mitigação para que os seus negócios não sejam comprometidos devido a acontecimentos inesperados.

A consequência das alterações climáticas já se faz sentir em todo o mundo, incluindo em Cabo Delgado, em que a passagem do ciclone tropical Freddy, em 2023, afetou mais de 1 milhão de pessoas, destruiu infraestruturas e obrigou à deslocação de cerca de 184 mil pessoas, segundo dados das Nações Unidas.

Para além das questões ambientais, existem também desafios em áreas como a dos direitos humanos, a saúde e segurança ocupacional, o trabalho digno e a igualdade de género, as quais devem estar na agenda de qualquer empresa. Por outro lado, a rápida evolução da tecnologia traz-nos desafios de governação corporativa a cada dia que passa, obrigando as empresas a adoptarem medidas para se protegerem das ameaças cibernéticas e garantir a segurança da informação não são dos dados da empresa, como também dos seus clientes.

Crescimento ESG em África

A obtenção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas até 2030 exigirá que África tenha acesso a fontes de financiamento sustentável em larga escala. Uma perspectiva positiva é que o investimento focado em critérios ambientais, sociais e de governança (ESG) pode abrir portas para atrair mais capital para os mercados sustentáveis e empresas africanas que possam demonstrar o seu compromisso com tais critérios.

No caso concreto de Moçambique, e mais precisamente de Cabo Delgado, as orientações da União Europeia (UE) sobre a devida diligência em sustentabilidade empresarial, como parte do Pacto Verde Europeu (European Green Deal), podem acarretar consequências significativas a longo prazo para as PME que exportam para a UE ou têm negócios e prestam serviços para entidades da UE.

Porquê implementar os critérios ESG e qual o valor acrescentado da certificação para as PME em Cabo Delgado?

Está comprovado que as organizações que adotam práticas ESG tornam-se mais eficientes e resilientes, ganhando vantagem competitiva face aos seus pares. Tais critérios não só orientam os investidores na escolha das empresas, como também influenciam as decisões dos consumidores e dos trabalhadores. Porém, a implementação dos critérios ESG não deve ser uniforme para todas as organizações e geografias, exigindo uma estratégia quase personalizada para cada caso. Neste contexto, a implementação das normas ISO contribui eficazmente para o cumprimento dos critérios. Por exemplo, a norma ISO 9001, que fornece diretrizes para o estabelecimento de um sistema de gestão da qualidade, ajuda as empresas a tornarem os seus processos mais eficientes, a terem um controlo documental mais fiável e a oferecer um produto e serviço com mais qualidade. Para além da otimização de processos e melhoria contínua que este tipo de normas traz, as PME certificadas terão certamente uma vantagem competitiva no mercado onde atuam, podendo oferecer os seus serviços às multinacionais que operam no país, as quais, aquando do seu processo de Procurement, têm já como critério de seleção o facto dos seus fornecedores possuírem, ou não, uma certificação.

A utilização das normas ISO é assim crucial para a eficaz adoção dos princípios ESG, oferecendo orientações, estrutura e legitimidade essenciais para empresas que buscam operar de forma sustentável e em conformidade com os padrões internacionais.

Não surpreende, portanto, que a Campanha “Empresa +Emprego” pretenda destacar e premiar as PME de Cabo Delgado que apresentem boas ambientais, sociais e de governança (ESG), mas que também se encontrem envolvidas em processos de certificação de qualidade ISO 9001. Elas devem ser um “farol” para as outras empresas da província, demonstrando que a harmonização estratégica entre as Normas ISO e os princípios ESG não apenas reforça a sustentabilidade empresarial, mas também promove a confiança do mercado e a competitividade entre as PME de Cabo Delgado.

Vicente Bento (Partner da InSite)